Capítulo VII

MARAVILHOSOS EFEITOS DESTA DEVOÇÃO EM UMA ALMA QUE LHE É FIEL
Artigo Primeiro
Conhecimento e desprezo de si mesmo
Artigo Segundo
Participação da Fé de Maria
Artigo Terceiro
A Graça do Puro Amor
Artigo Quarto
Grande Confiança em Deus e em Maria
Artigo Quinto
Comunicação da Alma e do Espírito de Maria
Artigo Sexto
Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo
Artigo Sétimo
A Maior Glória de Jesus Cristo

Efeitos maravilhosos que esta devoção produz numa alma que lhe é fiel

213. Meu querido irmão, convencei-vos de que, se vos tornardes fiel às práticas interiores e exteriores desta devoção, que vos indico em seguida:

Artigo Primeiro
Conhecimento e desprezo de si mesmo
Artigo Segundo
Participação da Fé de Maria
Artigo Terceiro
A Graça do Puro Amor
Artigo Quarto
Grande Confiança em Deus e em Maria
Artigo Quinto
Comunicação da Alma e do Espírito de Maria
Artigo Sexto
Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo
Artigo Sétimo
A Maior Glória de Jesus Cristo

Artigo I

Conhecimento e desprezo de si mesmo

Conhecimento e desprezo de si mesmo

1º Pela luz que o Espírito Santo vos dará por intermédio de Maria, sua querida esposa, conhecereis vosso fundo mau, vossa corrupção e vossa incapacidade para todo bem, e, em conseqüência deste conhecimento, vos desprezareis, e será com horror que pensareis em vós mesmo. Considerar-vos-eis como uma lesma asquerosa que tudo estraga com sua baba, como um sapo repugnante que tudo envenena com sua peçonha, ou como a serpente traiçoeira que só busca enganar. A humilde Maria vos dará, enfim, parte de sua profunda humildade, com que vos desprezareis a vós mesmo, sem desprezar pessoa alguma, e gostareis até de ser desprezado.

Artigo II

Participação da Fé de Maria

Participação da fé de Maria

214. 2º A Santíssima Virgem vos dará uma parte na fé, a maior que já houve na terra, maior que a de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos. Agora, reinando nos céus, ela já não tem esta fé, pois vê claramente todas as coisas em Deus, pela luz da glória. Com assentimento do Altíssimo, ela, entretanto, não a perdeu ao entrar na glória; guardou-a para seus fiéis servos e servas na Igreja militante. Quanto mais, portanto, ganhardes a benevolência desta Princesa e Virgem fiel, tanto mais profunda fé tereis em toda a vossa conduta: uma fé pura, que vos levará à despreocupação por tudo que é sensível e extraordinário; uma fé viva e animada pela caridade que fará com que vossas ações sejam motivadas por puro amor; uma fé firme e inquebrantável como um rochedo, que vos manterá firme e contente no meio das tempestades e tormentas; uma fé ativa e penetrante que, semelhante a uma chave misteriosa, vos dará entrada em todos os mistérios de Jesus Cristo, nos novíssimos do homem e no coração do próprio Deus; fé corajosa que vos fará empreender sem hesitações, e realizar grandes coisas para Deus e a salvação das almas; fé, finalmente, que será vosso fanal luminoso, vossa via divina, vosso tesouro escondido da divina Sabedoria e vossa arma invencível, da qual vos servireis para aclarar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte, para abrasar os tíbios e os que necessitam do ouro candente da caridade, para dar vida aos que estão mortos pelo pecado, para tocar e comover, por vossas palavras doces e poderosas, os corações de mármore e derrubar os cedros do Líbano, e para, enfim, resistir ao demônio e a todos os inimigos da salvação.

Artigo III

A Graça do Puro Amor

Graça do puro amor

215. 3º Esta Mãe do amor formoso (Ecli 24, 24) aliviará vosso coração de todo escrúpulo e de todo temor servil; ela o abrirá e alargará para correr pelo caminho dos mandamentos de seu Filho (cf. Sl 118, 32), com a santa liberdade dos filhos de Deus, e para nele introduzir o puro amor, de que ela possui o tesouro; de tal modo que não mais vos conduzireis, como o fizestes até aqui, pelo receio ao Deus de caridade, mas pelo puro amor, unicamente. Passareis a olhá-lo como vosso bondoso Pai, tratando de agradar-lhe incessantemente; com ele conversareis confidentemente, à semelhança de um filho com seu pai. Se, por acaso, o ofenderdes, humilhar-vos-eis em continente diante dele, pedir-lhe-eis perdão humildemente, lhe estendereis simplesmente a mão, e vos levantareis amorosamente, sem perturbação nem inquietação, se sem desfalecimentos continuareis a caminhar para ele.

Artigo IV

Grande Confiança em Deus e em Maria

Grande confiança em Deus e em Maria

216. 4º A Santíssima Virgem vos encherá de grande confiança em Deus e nela: 1º porque não vos aproximareis mais de Jesus Cristo por vós mesmo, mas sempre por intermédio desta bondosa Mãe; 2º porque, tendo lhe dado todos os vossos méritos, graças e satisfações, para que deles disponha à sua vontade, ela vos comunicará suas virtudes e vos revestirá de seus méritos, de sorte que podereis dizer confiantemente a Deus: “Eis Maria, vossa serva: faça-se em mim conforme a vossa palavra: Ecce ancilla Domini; Fiat mihi secundum verbum tuum” (Lc 1, 38); 3º porque, desde que vos destes a ela inteiramente, de corpo e alma, ela, que é liberal com os liberais, e mais liberal que os próprios liberais, dar-se-á a vós em troca, e isto de um modo maravilhoso, mas verdadeiro; assim podereis dizer-lhe ousadamente: “Tuus sum ego, salvum me fac! – Eu vos pertenço, Santíssima Virgem, salvai-me!” (Sl 118, 94) ou, como já disse (cf. nº 179), com o discípulo amado: “Accepi te in mea” – eu vos tomei, Mãe Santíssima, como todo o meu bem. Podereis ainda dizer com São Boaventura: “Ecce Domina salvatrix mea, fiducialiter agam, et non timebo, quia fortitudo mea, et laus mea in Domino es tu...” (Psalter. maius B. V., Cant. instar Is 12, 2.) e em outro lugar: “Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt; o Virgo gloriosa, super omnia benedicta, ponam te ut signaculum super cor meum, quia fortis est ut mors dilectio tua (Psalter. Maius B. V., Cant. instar Ex 15.) – Minha querida Senhora e Salvadora, agirei com confiança e não temerei porque sois minha força e meu louvor no Senhor... Sou todo vosso, e tudo que tenho vos pertence; ó gloriosa Virgem, bendita sobre todas as coisas criadas, que eu vos ponha como uma marca sobre meu coração, pois vossa dileção é forte como a morte!” Podereis dizer a Deus com os sentimentos do profeta: “Domine, non est exaltatum cor meum, neque elati sunt oculi mei; neque ambulavi in magnis, neque in mirabilibus super me; si non humiliter sentiebam, sed exaltavi animam meam; sicut ablactatus est super matre sua, ita retributio in anima mea (Sl 130, 1-2) – Senhor, nem meu coração nem meus olhos têm motivo para se elevar e ensoberbecer, nem de buscar coisas grandes e maravilhosas; e mesmo assim, ainda não sou humilde; mas elevei e encorajei minha alma pela confiança; sou como uma criança, afastada dos prazeres da terra e apoiada ao seio de minha mãe; e é neste seio que sou cumulado de bens. 4º O que aumenta ainda vossa confiança nela é que, tendo lhe dado em depósito tudo o que tendes de bom para dar ou guardar, confiareis menos em vós e muito mais nela, que é vosso tesouro. Oh! que confiança e consolação para uma alma poder chamar também seu o tesouro de Deus, onde Deus depositou o que tem de mais precioso! “Ipsa est thesaurus Domini – Ela é, diz um santo, o tesouro do Senhor”.(Idiota - In contemplatione B. M. V.).

Artigo V

Comunicação da Alma e do Espírito de Maria

Comunicação da alma e do espírito de Maria

217. 5º A alma da Santíssima Virgem se comunicará a vós para glorificar o Senhor; seu espírito tomará o lugar do vosso para regozijar-se em Deus, contanto que pratiqueis fielmente esta devoção. “Sit in singulis anima Mariae, ut magnificet Dominum; sit in singulis spiritus Mariae, ut exultet in Deo (S. Ambrósio - Expositio in Lc 1. III, n. 26). – Que a alma de Maria esteja em cada um para aí glorificar o Senhor; que o espírito de Maria esteja em cada um para aí regozijar-se em Deus”. Ah! quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar? Então, coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas de graça. Meu caro irmão, quando chegará esse tempo feliz, esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo? Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino, “Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae”.

Artigo VI

Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo

Transformação das almas em Maria à imagem de Jesus Cristo

218. 6 º Se Maria, que é a árvore da vida, for bem cultivada em nossa alma pela fidelidade às práticas desta devoção, ela dará fruto em seu tempo; e seu fruto não é outro senão Jesus Cristo. Vejo tantos devotos e devotas que buscam Jesus Cristo, estes por uma via e uma prática, aqueles por outra; e muitas vezes depois de muito labutar durante a noite, podem dizer: “Per totam noctem laborantes, nihi cepimus – Trabalhamos a noite inteira, nada apanhamos” (Lc 5, 5). E pode-se responder-lhes: “Laborastis multum, et intulistis parum – muito trabalhastes e pouco ganhastes”.(Ag 1, 6 - O texto exato diz “Seminastis multum...”). Jesus Cristo está ainda muito fraco em vós. Mas, pelo caminho imaculado de Maria e por esta prática divina que ensino, trabalha-se durante o dia, trabalha-se num lugar santo, trabalha-se pouco. Em Maria não há noite, pois ela jamais pecou, nem teve sequer a sombra dum pecado. Maria é um lugar santo, o Santo dos santos, em que se formam e modelam os santos.
219. Notai, se vos apraz, que eu digo que os santos são moldados por Maria. Há grande diferença entre executar uma figura em relevo, a martelo e a cinzel, e executá-la por molde. Os escultores e estatuários têm de esforçar-se muito para fazer uma figura da primeira maneira, e gastam muito tempo; mas, da segunda maneira, trabalham pouco e terminam em pouco tempo. S. Agostinho chama a Santíssima Virgem “forma Dei”, o molde de Deus. “Si formam Dei te appellem, digna exsistis”(Sermo 208 (inter opera S. Augustini): “Sois digna de ser chamada o molde de Deus”): o molde próprio para formar e moldar deuses. Aquele que é lançado no molde divino fica em breve formado e moldado em Jesus Cristo, e Jesus Cristo nele: com pouca despesa e em pouco tempo, ele se tornará deus, pois foi lançado no mesmo molde que formou um Deus.
220. Parece-me que posso muito bem comparar esses diretores e pessoas devotas que pretendem formar Jesus Cristo em si mesmos ou nos outros, por meio de práticas diferentes destas, a escultores que, depositando toda a confiança na própria perícia, conhecimento e arte, dão uma infinidade de marteladas e embotam o cinzel numa pedra dura, ou numa madeira áspera, para fazer a imagem de Jesus Cristo; e às vezes não conseguem dar expressão natural a Jesus Cristo, ou por falta de conhecimentos ou devido a algum golpe desastrado que prejudica toda a obra. Aqueles, porém, que abraçam este segredo da graça que lhes apresento, eu os comparo a fundidores e moldadores que, tendo encontrado o belo molde de Maria, no qual Jesus Cristo foi natural e divinamente formado, sem se fiar na própria habilidade, mas unicamente na eficiência do molde, lançam-se e perdem-se em Maria para se tornarem o retrato natural de Jesus Cristo.
221. Bela e verdadeira comparação! Quem a compreenderá, porém? Desejo que sejais vós, querido irmão. Mas lembrai-vos que só se lança no molde o que está fundido e líquido, isto é, que é mister destruir e fundir em vós o velho Adão, para que venha a ser o novo em Maria.

Artigo VII

A Maior Glória de Jesus Cristo

A maior glória de Jesus Cristo

222. 7º Por esta prática, fielmente observada, dareis a Jesus Cristo mais glória em um mês, que por qualquer outra, embora mais difícil, em muitos anos. – Eis as razões do que afirmo:
1º Porque, fazendo vossas ações pela Santíssima Virgem, como esta prática ensina, abandonais vossas próprias intenções e operações, ainda que boas e conhecidas, para vos perder, por assim dizer, nas da Santíssima Virgem, embora as desconheçais; e por aí entrais a participar da sublimidade de suas intenções, que foram tão puras, que ela deu mais glória a Deus, pela menor das suas ações, por exemplo, fiando na sua roca, dando um ponto de agulha, do que um São Lourenço estendido na grelha, por seu cruel martírio, e mesmo que todos os santos por suas mais heróicas ações; pelo que, durante sua vida neste mundo, ela
conquistou tal soma inefável de graças e méritos que se contariam antes as estrelas do firmamento, as gotas d’água do mar e os grãos de areia das praias; e ela deu mais glória a Deus que todos os anjos e santos reunidos e como eles jamais deram nem poderão dar. Ó prodígio de Maria! vós só podeis realizar prodígios de graça nas almas que querem de boa mente abismar-se em vós.
223. 2º Porque uma alma, por esta prática, considerando nada tudo o que pensa ou faz por si mesma, e pondo todo o seu apoio e complacência nas disposições de Maria, para aproximar-se de Jesus Cristo e até para falar-lhe, pratica mais humildade que as almas que agem por si mesmas, que se apóiam e comprazem nas próprias disposições. Conseqüentemente, ela glorifica mais altamente a Deus, que só é glorificado perfeitamente pelos humildes e pequenos de coração.
224. 3º Porque a Santíssima Virgem, querendo, por sua grande caridade, receber em suas mãos virginais o presente de nossas ações, dá-lhes uma beleza e brilho admiráveis; ela mesma as oferece a Jesus Cristo, e Nosso Senhor é assim mais glorificado que se nós lhas oferecêssemos por nossas mãos criminosas.
225. 4º Enfim, porque nunca pensais em Maria, sem que ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca a louvais nem honrais, sem que ela convosco louve e honre a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu a chamaria a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e chamou-a bem-aventurada, porque ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: “Magnificat anima mea Dominum – Minha alma glorifica o Senhor” (Lc 1, 46). O que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias; quando a louvamos, amamos, honramos ou lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado, e recebe por Maria e em Maria.

Capítulo VIII

PRÁTICAS PARTICULARES DESTA DEVOÇÃO
Artigo Primeiro
Práticas exteriores
I. Consagração depois dos exercícios preparatórios
II. A Coroinha da Santíssima Virgem Maria
III. O uso das Cadeiazinhas
IV. Culto especial ao Mistério da Encarnação
V. Grande Devoção pela Ave-Maria e pelo Rosário
VI. O Magnificat
VII. O desprezo do mundo
Artigo Segundo
Práticas particulares e interiores para aqueles que desejam vir a ser perfeitos 
I. Fazer tudo por Maria
II. Fazer tudo com Maria
III. Fazer tudo em Maria
IV. Fazer tudo para Maria
MODO DE PRATICAR ESTA DEVOÇÃO NA SAGRADA COMUNHÃO
Antes da Comunhão
Durante a Comunhão
Depois da Comunhão

Práticas particulares desta devoção

Artigo Primeiro
Práticas exteriores
I. Consagração depois dos exercícios preparatórios
II. A Coroinha da Santíssima Virgem Maria
III. O uso das Cadeiazinhas
IV. Culto especial ao Mistério da Encarnação
V. Grande Devoção pela Ave-Maria e pelo Rosário
VI. O Magnificat
VII. O desprezo do mundo
Artigo Segundo
Práticas particulares e interiores para aqueles que desejam vir a ser perfeitos 
I. Fazer tudo por Maria
II. Fazer tudo com Maria
III. Fazer tudo em Maria
IV. Fazer tudo para Maria
MODO DE PRATICAR ESTA DEVOÇÃO NA SAGRADA COMUNHÃO
Antes da Comunhão
Durante a Comunhão
Depois da Comunhão

Artigo I

Práticas exteriores
I. Consagração depois dos exercícios preparatórios
II. A Coroinha da Santíssima Virgem Maria
III. O uso das Cadeiazinhas
IV. Culto especial ao Mistério da Encarnação
V. Grande Devoção pela Ave-Maria e pelo Rosário
VI. O Magnificat
VII. O desprezo do mundo
Artigo Segundo
Práticas particulares e interiores para aqueles que desejam vir a ser perfeitos 
I. Fazer tudo por Maria
II. Fazer tudo com Maria
III. Fazer tudo em Maria
IV. Fazer tudo para Maria
MODO DE PRATICAR ESTA DEVOÇÃO NA SAGRADA COMUNHÃO
Antes da Comunhão
Durante a Comunhão
Depois da Comunhão

Práticas exteriores

226. Se bem que o essencial desta devoção consista no interior, ela conta também práticas exteriores que é preciso não negligenciar: “Haec oportuit facere et illa non omittere” (Mt 23, 23); tanto porque as práticas exteriores bem feitas ajudam as interiores, como porque relembram ao homem, que se conduz sempre pelos sentidos, o que fez ou deve fazer; também porque são próprias para edificar o próximo que as vê, o que já não acontece com as práticas puramente interiores. Nenhum mundano, portanto, critique, nem meta aqui o nariz, dizendo que a verdadeira devoção está no coração, que é preciso evitar exterioridades, que nisto pode haver vaidade, que é preferível ocultar cada um sua devoção, etc. Respondo-lhes com meu Mestre: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 16). Não quer isto dizer, como observa S. Gregório (Homil. II in Evangel), que devamos fazer nossas ações e devoções exteriores para agradar os homens e daí tirar louvores, o que seria vaidade; mas fazê-las às vezes diante dos homens, com o fito de agradar a Deus e glorificá-lo, sem, preocupar-nos com o desprezo ou os louvores dos homens.
Citarei apenas abreviadamente algumas práticas exteriores, que não qualifico de exteriores porque sejam feitas sem interior, mas porque contêm qualquer exterioridade, e para distingui-las das que são estritamente interiores.

I. Consagração depois de exercícios preparatórios.

227. Primeira prática. Aqueles e aquelas que quiserem adotar esta devoção, que não está erigida em confraria, como seria de desejar (Os votos de S. Luís Maria de Montfort se realizaram. Sua querida devoção está ereta em Arquiconfraria, cujos membros, já numerosos, se multiplicam dum modo extraordinário.), depois de ter, como já disse na primeira parte desta preparação ao reino de Jesus Cristo (Estas palavras de S. Luís Maria parecem aludir a outra obra que teria servido de introdução a esta, como por exemplo: “L’amour de la Sagesse éternelle” (Cf. cap. VII e XVI).), empregando ao menos doze dias em desapegar-se do espírito do mundo, contrário ao de Jesus Cristo, dedicarão três semanas a encher-se de Jesus Cristo por intermédio da Santíssima Virgem. Eis a ordem a observar:
Estas palavras de S. Luís Maria parecem aludir a outra obra que teria servido de introdução a esta, como por exemplo: “L’amour de la Sagesse éternelle” (Cf. cap. VII e XVI).
228. Durante a primeira semana aplicarão todas as orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição por seus pecados. Tudo farão em espírito de humildade. Para isso poderão, se quiserem, meditar sobre o que ficou dito sobre o nosso fundo de maldade (V. acima n. 78 e seguintes), e considerar-se, nos seis dias desta semana, como uma lesma, um sapo, um porco, uma serpente, um bode; ou, então, estas três palavras de São Bernardo: “Cogita quid fueris, semen putridum; quid sis, vas stercorum; quid futurus sis, esca verminum”.(Pensa no que fostes: um pouco de lodo; no que és: vaso de escórias; no que serás: pasto de vermes” - São Bernardo, inter opera: Meditação sobre o conhecimento da condição humana). Pedirão a Nosso Senhor e a seu Espírito Santo que os esclareça, dizendo: “Domine, ut videam (“Senhor, fazei que eu veja” Lc 18, 41); ou “Noverim me” (Santo Agostinho: “Que eu me conheça”); ou “Veni, Sancte Spiritus”, e dirão todos os dias a ladainha do Espírito Santo e a oração que segue. Recorrerão à Santíssima Virgem e lhe pedirão esta grande graça que deve ser o fundamento das outras, e para isso recitarão todos os dias o “Ave, Maris Stella” e as ladainhas.
229. Durante a segunda semana, aplicar-se-ão em todas as suas orações e obras cotidianas, em conhecer a Santíssima Virgem. Implorarão este conhecimento ao Espírito Santo. Poderão ler e meditar o que já dissemos a respeito. Recitarão, como na primeira semana, as ladainhas do Espírito Santo, o “Ave, Maris Stella”, e mais um rosário todos os dias, ou pelo menos o terço, nesta intenção.
230. A terceira semana será empregada em conhecer Jesus Cristo. Poderão ler e meditar o que dissemos neste sentido, e recitar a oração de santo Agostinho, inserida no número 67. Poderão, com o mesmo santo, dizer e repetir centenas de vezes por dia: “Noverim te: Senhor, que eu vos conheça”, ou então: Domine, ut videam – Senhor, fazei que eu veja quem sois”. Como nas semanas precedentes, recitarão as ladainhas do Espírito Santo e o “Ave, Maris Stella”, ajuntando as ladainhas do Santíssimo nome de Jesus.
231. Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e comungarão na intenção de se darem a Jesus Cristo na condição de escravos por amor, pelas mãos de Maria. E depois da comunhão, que cuidarão de fazer conforme o método que segue (v. n. 266), recitarão a fórmula de consagração, que se encontra também adiante (v. p. 280); será necessário que a escrevam ou mandem escrever, se não estiver impressa, e a assinem no mesmo dia em que a fizerem.
232. Nesse dia, será bom renderem algum tributo a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima, seja em penitência de sua infidelidade passada às promessas do batismo, seja em sinal de sua dependência do domínio de Jesus e de Maria. Ora, esse tributo será conforme a devoção e capacidade de cada um: um jejum, uma mortificação, uma esmola, um círio. Ainda que não dêem mais que um alfinete em homenagem, contanto que o dêem de bom coração, é o bastante para Jesus, que só olha a boa vontade.
233. Todos os anos, ao menos, no mesmo dia, renovarão a consagração, observando as mesmas práticas durante três semanas.
Poderão até, todos os meses e, quiçá, todos os dias, renovar, com as poucas palavras seguintes, tudo o que fizerem: “Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt – Sou todo vosso e tudo o que tenho vos pertence”, ó meu amável Jesus, por Maria, vossa Mãe Santíssima.(Os membros da Arquiconfraria de Maria, Rainha dos corações, ganham uma indulgência de 300 dias todas as vezes que renovarem sua consagração, pelas palavras: “Sou todo vosso, e tudo que possuo vos ofereço, ó meu amado Jesus, por Maria, vossa Mãe Santíssima”.)

II. Recitação da coroinha da Santíssima Virgem.

234. Segunda prática. Recitarão todos os dias de sua vida, sem, entretanto, nenhum constrangimento, a coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias, em honra dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem. Esta prática é muito antiga e tem seu fundamento na Sagrada Escritura. São João viu uma mulher coroada de doze estrelas, vestida do sol e tendo a lua debaixo de seus pés (Ap 12, 1) e esta mulher, na opinião dos intérpretes(Entre outros, S. Agostinho (Tratct. De Symbolo ad Catechumenos, 1. IV, cap. I); S. Bernardo (Sermo super “Signum Magnum”, n. 3), é a Santíssima Virgem.
235. Há muitos modos de rezar bem esta coroinha e seria demasiado longo mencioná-los. O Espírito Santo o inspirará àqueles e àquelas que mais fiéis se mostrarem a esta devoção. Para rezá-la bem simplesmente é preciso dizer em primeiro lugar: “Dignare me laudare te, Virgo sacrata; da mihi virtutem contra hostes tuos”(“Fazei-me digno de vos louvar, ó Virgem sagrada, e dai-me força contra os vossos inimigos”.); em seguida, reza-se o credo, depois um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias e um Glória ao Pai; ainda um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias, e um Glória ao Pai; e assim por diante. Ao terminar, diz-se: “Sub tuum praesidium”.

III. Usar pequenas cadeias de ferro.

236. Terceira prática. É muito louvável, glorioso e útil àqueles e àquelas, que assim demonstrarão ser escravos de Jesus em Maria, trazer, como sinal de sua amorosa escravidão, pequenas cadeias de ferro, bentas com uma bênção especial.95
95) Poder-se-ia crer que certos decretos das Congregações Romanas tenham proibido terminantemente o uso dessas pequenas cadeias. Nada vemos, contudo, nesses decretos que interdite esta prática símbolo da escravidão a Jesus em Maria, no que consiste propriamente a devoção do B. Montfort (V. Analecta Iuris Pontificii, 1ª série, col. 757).
Estas demonstrações exteriores não são na verdade, essenciais, e uma pessoa pode bem se dispensar, embora tenha abraçado esta devoção. Não posso, contudo, esquivar-me a louvar aqueles e aquelas que, depois de terem rompido as cadeias vergonhosas da escravidão do demônio, a que os tinha arrastado o pecado original, e talvez os pecados atuais, se entregaram voluntariamente à gloriosa escravidão de Jesus Cristo e com S. Paulo se gloriam de estar acorrentados por Jesus Cristo (cf. Ef 3, 1), com correntes que, embora de ferro e sem brilho, são mais gloriosas e mais preciosas que todos os colares de ouro dos imperadores.
237. Nos tempos de outrora era a cruz o que havia de mais infamante; hoje, no entanto, é o símbolo mais glorioso do cristianismo. Digamos o mesmo dos ferros da escravidão. Nada havia de mais ignominioso entre os antigos, e ainda atualmente entre os pagãos. Entre os cristãos, porém, são mais ilustres, pois elas nos livram e preservam dos liames vergonhosos do pecado e do demônio; elas nos restituem a liberdade e nos ligam a Jesus e Maria, não a contragosto e a força, como a forçados, mas por caridade, por amor, como filhos: “Traham eos in vinculis caritatis” (Os 11, 4) – eu os atrairei a mim, diz Deus pela boca do profeta, com os vínculos da caridade, que, por conseqüência, são fortes como a morte (cf. Ct 8, 6), e, de certo modo, mais fortes naqueles que fielmente trouxeram, até a morte, esses distintivos gloriosos. Pois a morte, destruindo-lhes embora o corpo e reduzindo-o à podridão, não
destruirá as algemas de sua escravidão, as quais por serem de ferro, não se corrompem tão facilmente. E, no dia da ressurreição dos corpos, no juízo final, quem sabe, essas cadeias, pendentes ainda de seus ossos, não virão a constituir uma parte de seus ossos, não virão a constituir uma parte de sua glória, mudando-se em cadeias de luz e de glória? Felizes, portanto, mil vezes felizes os escravos ilustres de Jesus em Maria, que até ao túmulo usarem essas cadeias!
* * *

238. Eis os motivos por que se usam estas cadeiazinhas:
1º Relembram ao cristão os votos e compromissos do batismo, a renovação perfeita das promessas batismais que ele fez por esta devoção, e a estrita obrigação em que está de se conservar fiel. O homem, porque se deixa levar mais pelos sentidos do que pela fé pura, esquece facilmente suas obrigações para com Deus, se não tiver algo que lhas traga à memória. Por isso estas pequenas cadeias servem para lembrar ao cristão aquelas cadeias do pecado e da escravidão do demônio, de que o santo batismo o livrou, e a dependência que, neste sacramento, votou a Jesus Cristo, e a ratificação dessa dependência, feita ao renovar os seus votos; e um dos motivos por que tão poucos cristãos pensam nas promessas do santo batismo, e vivem com tanta libertinagem como se nada houvessem prometido a Deus, como se fossem pagãos, é não trazerem nenhuma marca ou distintivo exterior que disso os relembre.
239. 2º Mostra que ele não se envergonha de ser escravo e servo de Jesus Cristo, e que renunciou à escravidão funesta do mundo, do pecado e do demônio.
3º Garantem-no e preservam-no dos grilhões do pecado e do demônio, pois, ou estaremos agrilhoados pelas correntes do inimigo, ou traremos as cadeias da caridade e da salvação: “Vincula peccatorum; in vinculis caritatis”.

* * *

240. Ah! querido irmão, despedacemos os grilhões do pecado e dos pecadores, do mundo e dos mundanos, do demônio e de seus asseclas, e lancemos longe de nós seu jugo funesto: “Dirumpamus vincula eorum et proiiciamus a nobis iugum ipsorum” (Sl 2, 3). Metamos nossos pés, para servir-nos das palavras do Espírito Santo, em seus ferros gloriosos e nosso pescoço em suas cadeias: “Iniice pedem tuum in compedes illius, e in torques illius collum tuum” (Ecli 6, 25). Curvemos os ombros e carreguemos a Sabedoria, que é Jesus Cristo, e não nos enfademos de suas correntes: “Subiice humerum tuum et porta illam, et ne acedieris vinculis eius” (Ecli 6, 26). Notareis que o Espírito Santo, antes de dizer estas palavras, prepara a alma, a fim de que ela não rejeite o importante conselho. Eis as suas palavras: “Audi fili, et accipe consilium intellectus, et ne abiicias consilium meum – Ouve, filho, e recebe uma sábia advertência, e não rejeites o meu conselho” (Ecli 6, 24).
241. Permiti, caríssimo amigo, que me uma aqui ao Espírito Santo, para dar-vos o mesmo conselho: “Vincula illius, alligatura salutaris” (Ecli 6, 31) – Suas cadeias são cadeias de salvação. Jesus pendente da cruz deve atrair tudo a si, e tudo, de bom ou mau grado, será atraído. Do mesmo modo ele atrairá os réprobos pelas correntes de seus pecados, para acorrentá-los, como forçados e demônios, à sua ira eterna e à sua justiça vingadora. Nos últimos tempos, porém, atrairá especialmente os predestinados, pelas cadeias da caridade: “Omnia grahan ad meipsum” (Jo 12, 32). “Trahan eos in vinculis caritatis” (Os 11, 4).
242. Esses amorosos escravos de Jesus Cristo ou acorrentados de Jesus Cristo, “vincti Christi” (Ef 3, 1), podem usar suas cadeias ou ao pescoço ou no braço, ou na cintura, ou nos pés. O padre Vicente Caraffa, sétimo geral da Companhia de Jesus, falecido em odor de santidade no ano 1643, usava, como sinal de sua servidão, um círculo de ferro nos pés, e dizia que lamentava não poder arrastar publicamente os grilhões. A madre Inês de Jesus, a quem já nos referimos (n. 170), trazia sempre uma corrente de ferro na cintura. Outros a
usaram ao pescoço, em penitência pelos colares de pérola que costumam usar no mundo. Outros a usaram no braço, para se lembrarem, no trabalho manual, que eram escravos de Jesus Cristo.

IV. Devoção especial ao mistério da Encarnação.

243. Quarta prática. Terão uma devoção especial pelo mistério da Encarnação do Verbo, a 25 de março(No dia 25 de março, todos os membros da Arquiconfraria de Maria, Rainha dos corações, podem ganhar uma indulgência plenária.), que é o mistério adequado a esta devoção, pois que esta devoção foi inspirada pelo Espírito Santo: 1º para honrar e imitar a dependência em que Deus Filho quis estar de Maria, para glória de Deus seu Pai e para nossa salvação; dependência que transparece particularmente neste mistério em que Jesus se torna cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, aí dependendo dela em tudo; 2º para agradecer a Deus as graças incomparáveis que concedeu a Maria, principalmente por tê-la escolhido para sua Mãe digníssima, escolha feita neste mistério. São estes os dois fins principais da escravização a Jesus Cristo em Maria.
244. Peço-vos notar que digo ordinariamente: “o escravo de Jesus em Maria, a escravização a Jesus em Maria”. Pode-se, é verdade, dizer como muitos já o disseram até aqui, “o escravo de Maria, a escravidão da Santíssima Virgem”. Creio, porém, que é melhor dizer “escravo de Jesus em Maria” como aconselhava M. Tronson, superior geral do seminário de S. Sulpício, o qual era conhecido por sua rara prudência e grande piedade. Assim aconselhou ele a um eclesiástico que o consultou sobre o assunto. As razões são estas:
245. 1º Visto estarmos num século orgulhoso, em que pululam os sábios enfatuados, os espíritos fortes e críticos, que sempre acham o que falar das mais sólidas e bem estabelecidas práticas de piedade, é preferível, para evitar-lhes ocasião de crítica desnecessária, dizer “escravidão de Jesus em Maria” e dizer-se “escravo de Jesus Cristo” do que escravo de Maria. Assim a denominação desta devoção será dada antes pelo caminho e meio para atingir este fim, Maria Santíssima. Pode-se, entretanto, usar uma ou outra sem o menor escrúpulo, como eu faço. Um homem, por exemplo, que vai de Orleans a Tours pelo caminho de Amboise, pode evidentemente dizer que vai a Amboise e que vai a Tours. A única diferença é que Amboise é apenas o caminho para ir a Tours e Tours é o fim, o termo de sua viagem.
246. Como o principal mistério que se celebra e honra nesta devoção é o mistério da Encarnação, no qual só se pode contemplar Jesus em Maria, e encarnado em seu seio, é mais adequado dizer-se “a escravidão de Jesus em Maria”, de Jesus residindo e reinando em Maria, conforme a bela oração de tantos homens célebres: “Ó Jesus vivendo em Maria, vinde e vivei em nós, em vosso espírito de santidade”, etc.
247. 3º Este modo de falar patenteia ainda mais a união íntima entre Jesus e Maria. Tão intimamente estão unidos que um é tudo no outro: Jesus é tudo em Maria e Maria é tudo em Jesus; ou, melhor, ela já não existe, mas Jesus somente nela, e antes se separaria do sol a luz, do que apartar Maria de Jesus. É assim que se pode chamar Nosso Senhor “Jesus de Maria”, e a Santíssima Virgem “Maria de Jesus”.
248. O tempo não me permite deter-me aqui para explicar as excelências e as grandezas do mistério de Jesus vivendo e reinando em Maria, ou a Encarnação do Verbo. Contento-me, por isso, em dizer, em três palavras, que é este o primeiro mistério de Jesus Cristo, o mais oculto, o mais elevado e o menos conhecido; que é neste mistério que Jesus, em colaboração com Maria, em seu seio, e por isto chamado pelos santos “aula sacramentorum”, sala dos segredos de Deus97, escolheu todos os eleitos; que foi neste mistério que ele operou todos os mistérios subseqüentes de sua vida, pela aceitação deles:
“Iesus ingrediens mundum dicit: Ecce venio ut faciam, Deus, voluntatem tuam” (Hb 10, 5-9). Por conseguinte, este mistério é um resumo de todos os mistérios, e contém a vontade e a graça de todos. Este mistério é, enfim, o trono da misericórdia, da liberdade e da glória de Deus. O trono da misericórdia de Deus, porque, já que não podemos aproximar-nos de Jesus senão por Maria, não podemos ver Jesus nem falar-lhe senão por intermédio de Maria. Jesus atende sempre a sua querida Mãe e concede sempre sua graça e sua misericórdia aos pobres pecadores: “Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae – Cheguemo-nos, pois, confiadamente, ao trono da graça” (Hb 4, 16). É o trono de sua liberalidade para Maira, porque este novo Adão, enquanto permanceu nesse veradeiro paraíso terrestre, aí realizou ocultamente tantas maravilhas que nem os anjos nem os homens as compreendem; por isso os santos chamaram Maria a magnificência de Deus: “Magnificentia Dei”98, como se Deus só fosse magnífico em Maria: “Solummodo ibi magnificus Dominus” (Is 33, 21). É o trono de sua glória para seu Pai, pois foi em Maria que Jesus Cristo acalmou perfeitamente seu Pai irritado contra os homens; que ele recuperou perfeitamente a glória que o pecado lhe tinha arrebatado, e que, pelo sacrifício, que neste mistério fez da sua vontade e de si mesmo, lhe deu mais glória como jamais lhe deram todos os sacrifícios da antiga lei, e, finalmente, lhe deu uma glória infinita como ainda não recebera de criatura humana.
97) S. Ambrósio: De Instit. Virg., cap. VII, n. 50.
98) Ricardo de São Lourenço: De laud. Virg. IV.

V. Grande devoção à Ave-Maria e ao terço.

249. Quinta prática. Terão grande devoção ao recitar a Ave-Maria, ou a Saudação Angélica, da qual bem poucos cristãos, mesmos esclarecidos, conhecem o valor, o mérito, a excelência e a necessidade. Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse várias vezes a grandes santos muito doutos, para demonstrar-lhes o mérito desta pequena oração, como sucedeu a S. Domingos, a S. João Capistrano, ao bem-aventurado Alano de la Roche. E eles compuseram livros inteiros sobre as maravilhas e a eficácia da Ave-Maria, para conversão das almas. Altamente publicaram e pregaram que a salvação do mundo começou pela Ave-Maria, e a salvação de cada um em particular está ligada a esta prece; que foi esta prece que trouxe à terra seca e árida o fruto da vida, e que é esta mesma prece que deve fazer germinar em nossa alma a palavra de Deus e produzir o fruto da vida, Jesus Cristo; que a Ave-Maria é um orvalho celeste, que umedece a terra, isto é, a alma, para fazer brotar o fruto no tempo adequado; e que uma alma que não for orvalhada por esta prece ou orvalho celeste não dará fruto algum, nem dará senão espinhos, e não estará longe de ser amaldiçoada (Hb 6, 8).
250. No livro “De dignitate Rosarii” do bem-aventurado Alano de la Roche, lê-se o seguinte que a Santíssima Virgem lhe revelou: “Saibas, meu filho, e comunica-o a todos, que um sinal provável e próximo de condenação eterna é a aversão, a tibieza, a negligência em rezar a Saudação Angélica, que foi a reparação de todo o mundo – Scias enim et secure inteligas et inde late omnibus patefacias, quod videlicet signum probabile est et propinquum aeternae damnationis horrere e acediari ac negligere Salutationem angelicam, totius mundi reparationem” (cap. II). Eis aí palavras consoladoras e terríveis, que se custaria a crer, se não no-la garantissem esse santo homem e antes dele S. Domingos, como, depois dele, muitos personagens fidedignos, com a experiência de muitos séculos. Pois sempre se verificou que aqueles que trazem o sinal de condenação, como os hereges, os ímpios, os orgulhosos, e os mundanos, odeiam e desprezam a Ave-Maria e o terço. Os hereges ainda aprendem e recitam o Pai-Nosso, mas abominam a Ave-Maria e o terço. Trariam antes uma serpente sobre o peito do que o rosário ou o terço. Os orgulhosos também, embora católicos, mas tendo as mesmas inclinações que seu pai Lúcifer, desprezam ou mostram uma indiferença completa pela Ave-Maria, considerando o terço uma devoção efeminada, suficiente para os ignorantes e analfabetos. Ao contrário, tem-se visto e a experiência o prova que aqueles e aquelas que possuem outros e grandes indícios de predestinação, amam, apreciam e recitam com prazer a Ave-Maria. E que quanto mais são de Deus, tanto mais amam esta oração. É o que a Santíssima Virgem diz também ao bem-aventurado Alano, em seguida às palavras que citei.
251. Não sei como isto acontece nem por que; entretanto é verdade, e não conheço melhor segredo para verificar se uma pessoa é de Deus, do que examinar se gosta ou não de rezar a Ave-Maria e o terço. Digo: gosta, pois pode acontecer que alguém esteja na impossibilidade natural ou até sobrenatural de dizê-la, mas sempre a ama e a inspira aos outros.

* * *

252. Almas predestinadas, escravas de Jesus em Maria, aprendei que a Ave-Maria é a mais bela de todas as orações, depois do Pai-Nosso. É a saudação mais perfeita que podeis fazer a Maria, pois é a saudação que o Altíssimo indicou a um arcanjo, para ganhar o coração da Virgem de Nazaré. E tão poderosas foram aquelas palavras, pelo encanto secreto que contêm, que Maria deu seu pleno consentimento para a Encarnação do Verbo, embora relutasse em sua profunda humildade. É por esta saudação que também vós ganhareis infalivelmente seu coração, contanto que a digais como deveis.
253. A Ave-Maria, rezada com devoção, atenção e modéstia, é, como dizem os santos, o inimigo do demônio, pondo-o logo em fuga, e o martelo que o esmaga; a santificação da alma, a alegria dos anjos, a melodia dos predestinados, o cântico do Novo Testamento, o prazer de Maria e a glória da Santíssima Trindade. A Ave-Maria é um orvalho celeste que torna a alma fecunda; é um beijo casto e amoroso que se dá em Maria, é uma rosa vermelha que se lhe apresenta, é uma pérola preciosa que se lhe oferece, é uma taça de ambrosia e de néctar divino que se lhe dá. Todas estas comparações são de santos ilustres.
254. Rogo-vos instantemente, pelo amor que vos consagro em Jesus e Maria, que não vos contenteis de recitar a coroinha de Santíssima Virgem, mas também o vosso terço, e até, se houver tempo, o vosso rosário, todos os dias, e abençoareis, na hora da morte, o dia e a hora em que me acreditastes; e, depois de ter semeado sob as bênçãos de Jesus e de Maria, colhereis bênçãos eternas no céu: Qui seminat in benedictionibus, de benedictionibus et metet” (2Cor 9, 6).

VI. Recitação do Magnificat

255. Sexta prática. Para agradecer a Deus pelas graças que concedeu à Santíssima Virgem, dirão freqüentemente o Magnificat, a exemplo da bem-aventurada Maria d’Oignies e de muitos outros santos. É a única oração e a única obra composta por Maria, ou, melhor, que Jesus fez por meio dela, pois ele fala pela boca de sua Mãe Santíssima. É o maior sacrifício de louvor que Deus já recebeu na lei da graça. É, dum lado, o mais humilde e o mais reconhecido e, doutro, o mais sublime e mais elevado de todos os cânticos. Há neste cântico mistérios tão grandes e tão ocultos, que os próprios anjos ignoram. Gerson, que foi um doutor tão sábio quanto piedoso, depois de empregar grande parte de sua vida escrevendo tratados cheios de erudição e piedade, sobre os mais difíceis temas, tremeu e vacilou no fim da carreira, ao empreender a explicação do Magnificat, com que tencionava coroar todas as suas obras. Num volume in-folio, ele nos diz coisas admiráveis do belo e divino cântico. Entre outras, afirma que a Santíssima Virgem o recitava muitas vezes sozinha, principalmente depois da santa comunhão, em ação de graças. O sábio Benzônio, num explicação do mesmo cântico, cita vários milagres operados por sua virtude, e diz que os demônios tremem e fogem, quando ouvem as palavras do Magnificat: “Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui” (Lc 1, 51).

VII. O desprezo pelo mundo.

256. Sétima prática. Os fiéis servos de Maria devem desprezar, odiar e fugir ao mundo corrompido, e servir-se das práticas de desprezo pelo mundo, que assinalamos na primeira parte.99
99) V. nota 3 do n. 227. Cf. “L’Amour de la Sagesse éternelle”, cap. XVI.

Artigo Segundo

Práticas particulares e interiores para aqueles que desejam vir a ser perfeitos 
I. Fazer tudo por Maria
II. Fazer tudo com Maria
III. Fazer tudo em Maria
IV. Fazer tudo para Maria
MODO DE PRATICAR ESTA DEVOÇÃO NA SAGRADA COMUNHÃO
Antes da Comunhão
Durante a Comunhão
Depois da Comunhão

Práticas particulares e interiores para aqueles que desejam vir a ser perfeitos

Práticas especiais e interiores para os que querem tornar-se perfeitos
257. Além das práticas exteriores da devoção que vimos referindo, as quais não se deve omitir por negligência ou desprezo, na medida que o estado e as condições de cada um o permitem, acrescentamos algumas práticas interiores assaz santificantes para aqueles chamados pelo Espírito Santo a mais alta perfeição.
Consiste, em quatro palavras, em fazer todas as suas ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de fazê-las mais perfeitamente por Jesus, com Jesus, em Jesus e para Jesus.

I. Fazer tudo por Maria
II. Fazer tudo com Maria
III. Fazer tudo em Maria
IV. Fazer tudo para Maria

I. Fazer todas as ações por Maria.

258. 1º É preciso fazer todas as ações por Maria, quer dizer, em todas as coisas obedecer à Santíssima Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito, que é o santo espírito de Deus. São filhos de Deus os que se conduzem pelo espírito de Deus: “Qui spiritu Dei aguntur, ii sunt filii Dei” (Rm 8, 14). E os que pautam sua conduta pelo espírito de Maria são filhos de Deus, como já demonstramos; entre tantos devotos da Santíssima Virgem, só os que se conduzem por seu espírito é que são devotos verdadeiros e fiéis. Disse que o espírito de Maria é o espírito de Deus, porque ela jamais se conduziu por seu próprio espírito, e sempre pelo espírito de Deus, e este de tal modo a dominou que acabou tornando-se seu próprio espírito. Por isto, diz Santo Ambrósio: “Sit in singulis... etc. – Esteja a alma de Maria em cada um para glorificar o Senhor; esteja em cada um o espírito de Maria para que se regozija em Deus”.(Palavras já citadas e comentadas no n. 217) Quão feliz é uma alma quando, a exemplo do bom irmão jesuíta Rodriguez (Canonizado por Leão XIII, em 15 de janeiro de 1888), falecido em odor de santidade, é toda possuída e governada pelo espírito de Maria, que é um espírito suave e forte, zeloso e prudente, humilde e corajoso, puro e fecundo!
259. Para que a alma se deixe conduzir por este espírito de Maria, é mister: 1º Renunciar ao próprio espírito, às próprias luzes e vontades, antes de qualquer coisa: por exemplo, antes da oração, antes de dizer ou ouvir a santa missa, antes de comungar, etc...; pois as trevas de nossa vontade própria, se bem que nos pareçam boas, poriam obstáculo ao santo espírito de Maria. 2º É preciso entregar-se ao espírito de Maria para ser por ele movido e conduzido como ela quiser. Cumpre colocar-se e permanecer entre suas mãos virginais como um instrumento nas mãos dum operário, como uma cítara nas mãos dum artista. Cumpre abandonar-se e perder-se nela, como uma pedra que se atira ao mar. E isto se faz simplesmente e num instante, por um só olhar do espírito, um pequeno movimento da vontade, ou verbalmente. Dizendo, por exemplo: “Renuncio a mim mesmo, dou-me a vós, minha querida Mãe”. E ainda que não sintamos nenhuma doçura sensível neste ato de união, ela não deixa de ser verdadeiro, do mesmo modo que, se disséssemos, com desagrado de Deus: “Dou-me ao demônio”, com a mesma sinceridade, embora o disséssemos sem mudança alguma sensível, não pertenceríamos menos verdadeiramente ao demônio. 3º É preciso, de tempos em tempos, durante uma ação ou depois, renovar o ato de oferecimento e de união, e, quanto mais o fizermos, mais cedo nos santificaremos, e mais cedo chegaremos à união com Jesus Cristo, que segue sempre necessariamente a união com Maria, pois o espírito de Maria é o espírito de Jesus.

II. Fazer todas as ações com Maria.

260. 2º É mister fazer todas as ações com Maria, isto é, em todas as ações olhar Maria como um modelo acabado de todas as virtudes e perfeições, que o Espírito Santo formou numa pura criatura, e imitá-lo na medida de nossa capacidade. Cumpre, portanto, que, em cada ação, consideremos como Maria a fez ou faria se estivesse em nosso lugar. Devemos, por isso, examinar e meditar as grandes virtudes que ela praticou durante a vida, especialmente 1º sua fé viva, pela qual creu fielmente e constantemente até ao pé da cruz, sobre o Calvário; 2º sua humildade profunda que a levou a esconder-se, a calar-se, a submeter-se a
tudo e a colocar-se em último lugar; 3º sua pureza virginal, que jamais teve nem terá semelhante sob o céu, e por fim todas as suas outras virtudes.
Lembrai-vos, repito-o uma segunda vez, de que Maria é o grande e único molde de Deus102 próprio para fazer imagens vivas de Deus, com pouca despesa e em pouco tempo; e que uma alma que encontrou este molde, e que nele se perde, fica em breve mudada em Jesus Cristo, aí representado ao natural.
102) Ver antes, n. 218 seg.

III. Fazer todas as ações em Maria.

261. 3º É preciso fazer todas as ações em Maria.
Para compreender cabalmente esta prática, é necessário saber que a Santíssima Virgem é o verdadeiro paraíso terrestre do novo Adão, de que o antigo paraíso terrestre é apenas figura. Há, portanto, neste paraíso terrestre, riquezas, belezas, raridades e doçuras inexplicáveis, que o novo Adão, Jesus Cristo, aí deixou. Neste paraíso ele pôs suas complacências durante nove meses, aí operou suas maravilhas e aí acumulou riquezas com a magnificência de um Deus. Este lugar santíssimo é formado de uma terra virgem e imaculada, da qual se formou e nutriu o novo Adão, sem a menor mancha ou nódoa, por operação do Espírito Santo que aí habita. É neste paraíso terrestre que está em verdade a árvore da vida que produziu Jesus Cristo, o fruto da vida; a árvore da ciência do bem e do mal, que deu a luz ao mundo. Há, neste lugar divino, árvores plantadas pela mão de Deus e orvalhadas por sua unção divina, árvores que produziram e produzem, todos os dias, frutos maravilhosos dum sabor divino; há canteiros esmaltados de belas e variegadas flores de virtudes, cujo perfume delicia os próprios anjos. Ostentam-se neste lugar prados verdes de esperança, torres fortes e inexpugnáveis e fortes, habitações cheias de encanto e segurança, etc. Ninguém, exceto o Espírito Santo, pode dar a conhecer a verdade oculta sob estas figuras de coisas materiais. Reina neste lugar um ar puro, sem infecção, um ar de pureza; um belo dia sem noite, da humanidade santa; um belo sol sem sombras, da Divindade; uma fornalha ardente e contínua de caridade, na qual todo o ferro que aí se lança fica abrasado e se transforma em ouro; há um rio de humildade que surge da terra, e que, dividindo-se em quatro braços, rega todo este lugar encantado: são as quatro virtudes cardeais.
262. O Espírito Santo, pela boca dos Santos Padres, chama também a Santíssima Virgem: 1º a porta oriental, por onde o sumo sacerdote Jesus Cristo entra e vem ao mundo (cf. Ez 44, 2-3); por ela entrou da primeira vez, e por ela virá da segunda; 2º o santuário da Divindade, o reclinatório da Santíssima Trindade, o trono de Deus, a cidade de Deus, o altar de Deus, o templo de Deus, o mundo de Deus. Todos estes diferentes epítetos e louvores são verdadeiros em relação às diversas maravilhas e graças que o Altíssimo realizou em Maria. Oh! que riqueza! que glória! que prazer! que felicidade poder entrar e habitar em Maria, em quem o Altíssimo colocou o trono de sua glória suprema!
263. Mas quão difícil é a pecadores, como somos, alcançar a permissão e a capacidade e a luz para entrar em lugar tão alto e tão santo, guardado não por um querubim, como o antigo paraíso terrestre, mas pelo próprio Espírito Santo, que nele se tornou o Senhor absoluto e do qual diz: “Hortus conclusus soror mea sponsa, hortus conclusus, fons signatus” (Ct 4, 12). Maria é fechada; Maria é selada; os miseráveis filhos de Adão e Eva, expulsos do paraíso terrestre, só tem acesso a este outro paraíso por uma graça especial do Espírito Santo, a qual devem merecer.
264. Depois que, pela fidelidade, obtivermos esta graça insigne, é com complacência que devemos morar no belo interior de Maria, aí repousar em paz, aí apoiar-nos com toda a confiança, aí seguramente esconder-nos e perder-nos sem reserva, a fim de que neste seio virginal: 1º a alma se alimente do leite de sua graça e de sua misericórdia maternal; 2º aí fique livre de suas perturbações, de seus temores e escrúpulos: 3º aí esteja em segurança, ao abrigo de todos os seus inimigos, o demônio, o mundo e o pecado, que aí não tem jamais entrada; e por isso ela diz que os que operam nela, não pecarão: “Qui operantur in me, non peccabunt” (Ecli 24, 30), isto é, os que em espírito, habitam a Santíssima Virgem, não cometerão pecado grave; 4º para que a alma fique formada em Jesus e Cristo e Jesus Cristo
nela; porque o seu seio, como dizem os Santos Padres103, é a sala dos sacramentos divinos, onde Jesus Cristo e todos os eleitos se formaram: “Homo et homo natus est in ea” (Sl 86, 5).104
103) Ver acima n. 248: “Aula sacramentorum”.
104) Sobre este texto, veja-se o comentário de nosso Santo, n. 32.

IV. Fazer todas as ações para Maria.

265. 4º É preciso fazer finalmente todas as ações para Maria. Porque, desde que nos entregamos completamente a seu serviço, é justo que façamos tudo para ela, como um criado, um servo, um escravo. Não a tomamos, porém, como fim último de nossos serviços, que é somente Jesus Cristo, mas como fim próximo, intermédio misterioso, e o meio mais fácil de chegar a ele. A exemplo de um bom servo e escravo, é preciso que não fiquemos ociosos, e sim que, apoiados por sua proteção, empreendamos e realizemos grandes coisas para tão augusta Soberana. É preciso defender seus privilégios quando alguém os disputar; sustentar sua glória, quando alguém a atacar; atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço e a esta verdadeira e sólida devoção; falar, clamar contra todos os que abusem de sua devoção para ultrajar seu Filho; e ao mesmo tempo estabelecer esta verdadeira devoção. E como recompensa destes pequenos serviços, não devemos pretender mais que a honra de pertencer a uma Princesa tão amável, e a felicidade de, por meio dela, ficarmos unidos a Jesus Cristo, seu Filho, com um liame indissolúvel no tempo e na eternidade.

Glória a Jesus em Maria!
Glória a Maria em Jesus!
Glória a Deus somente!

Modo de praticar esta devoção na santa comunhão

Antes da Comunhão
Durante a Comunhão
Depois da Comunhão

Antes da comunhão

I
Antes da comunhão

266. 1º Humilhar-vos-eis profundamente diante de Deus. 2º Renunciareis a vosso íntimo corrompido e a vossas disposições, ainda que vosso amor-próprio vo-las faça parecer boas. 3º Renovareis vossa consagração, dizendo: “Tuus totus ego sum, et omnia mea sunt: Sou todo vosso, minha querida Senhora, com tudo que tenho105 4º Suplicareis a esta boa Mãe que vos empreste seu coração, para, com as mesmas disposições, receberdes seu Filho. Fareis ver a ela, que importa à glória de seu Filho não ser introduzido num coração tão manchado como o vosso, e tão inconstante, que havia de tirar-lhe a glória ou perdê-la; se ela, entretanto, quiser habitar em vós para receber seu Filho, pode-o facilmente, em vista do domínio que tem sobre os corações; e, por ela, seu Filho será bem recebido, sem mancha, e sem perigo de ser ultrajado: “Deus in medio eius non commovebitur” (Sl 45, 6). Dir-lhe-eis confidentemente que tudo que lhe tendes dado de vossos bens é pouco para honrá-la, mas pela santa comunhão, lhe dareis o mesmo presente que o Pai eterno lhe deu, presente que mais há de honrá-la, que se lhe désseis todos os bens do mundo; e que, enfim, Jesus deseja ainda ter nela suas complacências e seu repouso, seja, embora, em vossa alma, mais suja e pobre do que o estábulo, ao qual Jesus não opôs dificuldades em descer, pois que ela lá estava. Com as seguintes e ternas palavras lhe pedireis seu coração: “Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, o Maria!”.106
105) Ou então a fórmula indulgenciada, indicada em “Notícias sobre a Arquiconfraria de Maria, Rainha dos corações” (Vantagens e privilégios, 3º).
106) Adaptação dos dois textos da Sagrada Escritura, comentados no decorrer do Tratado”. Cf. Jo 19, 19, 27 e Prov 23, 26.

Durante a comunhão

II
Durante a comunhão

267. Prestes a receber Nosso Senhor Jesus Cristo, dir-lhe-eis três vezes, depois do “Pater”: “Domine, non sum dignus...” etc., como se dissésseis, pela primeira vez, ao Pai eterno que, devido a vossos maus pensamentos e ingratidões para com ele, não sois digno de receber seu único Filho. Eis, porém, Maria, sua serva: “Ecce ancilla Domini”, que tudo faz por vós, e que vos dá uma confiança e esperança especiais, junto de sua Majestade: “Quoniam singulariter in spe constituisti me” (Sl 4, 10).
268. Direis ao Filho: “Domine, non sum dignus...” etc., que não sois digno de recebê-lo, por causa de vossas palavras inúteis e más, e vossa infidelidade em seu serviço; vós lhe rogais, entretanto, que tenha piedade de vós, pois que ides introduzi-lo na morada de sua própria Mãe e vossa, e que não o deixareis partir, sem que ele venha aí alojar-se: “Tenui eum, nec dimitttam, donec introducam illum in domum matris meae, et in cubiculum genitricis meae” (Ct 3, 4). Implorar-lhe-eis que se levante e venha para o lugar de seu repouso e para a arca de sua santificação: “Surge, Domine, in requiem tuum, tu et arca sanctificationis tuae” (Sl 131, 8). Dir-lhe-eis que, de modo algum, depositais vossa confiança em vossos méritos, vossa força e vossas preparações, como Esaú, e sim nos de Maria, vossa querida Mãe, a exemplo do pequeno Jacob nos desvelos de Rebeca; que, pecador e Esaú que sois, ousais aproximar-se de sua santidade, ornado e apoiado pelas virtudes de sua Mãe Santíssima.
269. Direis ao Espírito Santo: “Domine, non sum dignus...” etc., que não sois digno de receber a obra-prima de sua caridade, em vista da tibieza e iniqüidade de vossas ações e de vossas resistências a suas inspirações. Mas toda a vossa confiança é Maria, sua fiel Esposa. E direis com São Bernardo: “Haec mea maxima fiducia est; haec tota ratio spei meae”.107 Podeis mesmo pedir-lhe que desça ainda a Maria, sua Esposa inseparável; pois seu seio é tão puro e seu coração tão abrasado como sempre, e que se ele não descer à vossa alma, Jesus e Maria não serão aí formados, nem dignamente alojados.
107) “De Aquaeductu”, n. 7.

Depois da santa comunhão

III
Depois da santa comunhão

270. Inteiramente recolhido, os olhos fechados, depois da santa comunhão, introduzireis Jesus Cristo no coração de Maria. A sua Mãe o dareis, e ela o receberá amorosamente, colocá-lo-á em lugar de honra, adorá-lo-á profundamente, amá-lo-á perfeitamente, abraçá-lo-á estreitamente, e, em espírito e verdade, lhe prestará honras que nós, cercados de espessas trevas, desconhecemos.
271. Ou, então, jazei profundamente humilhado, na presença de Jesus residindo em Maria; ou permanecei como um escravo à porta do palácio real, onde o Rei se entretém com a Rainha; e, enquanto eles conversam sem necessidade de vossa presença, ide em espírito ao céu e a toda a terra rogar às criaturas que em vosso lugar agradeçam, adorem e amem a Jesus e Maria: “Venite, adoremus, venite!” (Sl 94, 6).
272. Ou, ainda, pedi a Jesus, em união com Maria, que, por meio dela venha à terra o seu reino, ou a divina sabedoria, ou o amor divino, ou o perdão de vossos pecados, ou qualquer outra graça, mas sempre por Maria e em Maria. E, considerando-vos a vós mesmo, dizei: “Ne respicias, Domine, peccata mea – Senhor, não olheis os meus pecados”108, “sed oculi tui videant aequitates Mariae”109: mas que vossos olhos só vejam em mim as virtudes e graças de Maria. E, lembrando-vos de vossos pecados, acrescentareis: “Inimicus homo hoc fecit” (Mt 13, 28): Eu, que sou o meu maior inimigo, cometi esses pecados; ou, então: “Ab homine iniquo et doloso erue me” (Sl 42, 1), ou “Te oportet crescere, me autem minui” (cf. Jo 3, 30): Meu Jesus, é preciso que cresçais em minha alma e que eu diminua. Maria, é preciso que cresçais em mim e que eu seja menos do que tenho sido. “Crescite et
multiplicamini” (Gn 1, 22): “Ó Jesus e Maria, crescei em mim e multiplicai-vos fora, nos outros.
108) Missal romano, 1ª orat. ante communionem.
109) Sl 16, 2, aplicado à Santíssima Virgem.
273. São infinidade os pensamentos que o Espírito Santo fornece, e vos fornecerá se fordes bastante interior, mortificado e fiel a esta grande e sublime devoção, que acabo de ensinar-vos. Lembrai-vos que, quanto mais deixardes Maria agir em vossa comunhão, mais será Jesus glorificado; e tanto mais deixareis agir Maria para Jesus, e Jesus em Maria, quanto mais profundamente vos humilhardes, e, então, os ouvireis em paz e silêncio, sem vos afligirdes para ver, degustar, nem sentir, pois, em toda parte, o justo vive da fé, e especialmente na santa comunhão que é um ato de fé: “Iustus meus ex fide vivit” (Hb 10, 38).

APÊNDICE

Exercícios espirituais preparatórios à consagração solene 
conforme o método de S. Luís Grignion de Monfort

DOZE DIAS PRELIMINARES

Empregados em desapegar-se do espírito do mundo
Veni, Creátor Spíritus
Ave, Maris Stella

II

PRIMEIRA SEMANA
empregada em adiquirir o conhecimento de si mesmo
Ladainha do Espírito Santo
Ave, Maris Stella
Ladainha de Nossa Senhora


III

SEGUNDA SEMANA
Empregada em adquirir o conhecimento da Santíssima Virgem
Ladainha do Espírito Santo
Ave, Maris Stella
Um rosário ou ao menos um terço

IV

TERCEIRA SEMANA
empregada em adquirir o conhecimento de Jesus Cristo
Ladainha do Espírito Santo
Ave, Maris Stella
Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus

VENI, CREATOR SPIRITUS

Vem , ó criador Espírito,
As almas dos teus visita;
Os corações que criastes,
Enche de graça infinita.

Tu, Paráclito és chamado
Dom do Pai celestial,
Fogo, caridade, fonte
Viva unção espiritual.

Tu dás septiforme graça;
Dedo és da destra paterna;
Do Pai, solene promessa,
Dás força da voz suprema.

Nossa razão esclarece,
Teu amor no peito acende,
Do nosso corpoa fraqueza
Com tua força defende.

De nós afasta o inimigo.
Dá que Deus Pai e seu Filho
Por ti nós bem conheçamos,
E em ti, Espírito de ambos
Em todo tempo creiamos.

A Deus Pai se de a gloria
E ao Filho ressuscitado,
Paráclito e a ti também
Com louvor perpetuado. Amém

V. Envia o vosso Espírito, e a tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.

Oremos. O’ Deus, que instruíste os corações de vossos fieis com a luz do espírito conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo Nosso Senhor. Amém

Em Latim

Veni, Creátor Spíritus,
Mentes tuórum visita,
Imple supérna gratia,
Quae tu creásti péctora.

Qui diceris Paráclitus,
Altissimi donum Dei,
Fons vivus, ignis, charitas
Et spiritális únctio.

Tu septiformis múmere,
Dígitus patérnae déxterae
Tu rite promissum Patris,
Sermone ditans gúttura.

Accénde lúmen sénsibus:
Infunde amórem cordibus:
Infirma nóstri córporis
Virtute firmans pérpeti.

Hostem repéllas longius,
Pacémque dones prótinus;
Ductóre sic te praevio,
Vitémus omne nóxium.

Per te sciamus da Patrem
Noscamus atque Fílium;
Teque utriúsque Spíritum
Credámus omni tempore.

Deo Patri sit gloria,
Et Filio, qui a mortuis
Surrexit, ac Paráclito
In saeculorum saecula. Amen.

V: Emitte Spiritum tuun et creabuntur
R: Et renovabis faciem terrae.

Oremus. Deus qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuitis, da nobis in eodem Spiritus recta sapere et de eius semper consolatione gaudere. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

AVE, MARIS STELLA

Ave do mar Estrela,
De Deus Mãe bela,
Sempre Virgem, da morada
Celeste feliz entrada.

O’ tu que ouviste da boca
Do anjo a saudação;
Dá-nos paz e quietação;
E o nome de Eva troca.

As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.

Ostenta que és Mãe fazendo
Que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo
Por nós quis ser filho teu.

O’ Virgem especiosa,
Toda cheia de ternura,
Extintos nossos pecados ,
Dá-nos pureza e brandura,

Dá-nos uma vida pura,
Põe-nos em via segura,
Para que a Jesus gozemos,
E sempre nos alegremos.

A Deus Pai veremos;
A Jesus Cristo também.
E ao Espírito Santo demos
Aos três um louvor. Amém.

Em Latim


Ave, maris stella,
Dei Mater alma,
Atque semper virgo,
Felix caeli porta.

Sumens illud Ave,
Gabrielis ore,
Funda nos in pace,
Mutans Hevae nomen.

Solve vincla reis,
Profer lumen caecis,
Mala nostra pelle,
Bona cuncta posce.

Monstra te esse matrem,
Sumat per te precem
Qui pro nobis natus
Tulit esse tuus.

Virgo singuláris,
Inter omnes mitis,
Nos culpis solútos
M.ites fac et castos.

Vitam praesta puram.
Iter para tutum,
Ut vidéntes Iesum
Semper collaetemur.

Sit laus Deo
Patri, Summo Christo decus,
Spritui Sancto
Tribus honor unus. Amen.

Ladainha do Espírito Santo

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Divino Espírito Santo, ouvi-nos.
Espírito Paráclito, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus.
Espírito da verdade,
Espírito da sabedoria,
Espírito da inteligência,
Espírito da fortaleza,
Espírito da piedade,
Espírito do bom conselho,
Espírito da ciência,
Espírito do santo temor,
Espírito da caridade,
Espírito da alegria,
Espírito da paz,
Espírito das virtudes,
Espírito de toda graça,
Espírito da adoção dos filhos de Deus,
Purificador das nossas almas,
Santificador e guia da Igreja Católica,
Distribuidor dos dons celestes,
Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração,
Doçura dos que começam a vos servir, Coroa dos perfeitos,
Alegria dos anjos,
Luz dos patriarcas,
Inspiração dos profetas,
Palavra e sabedoria dos apóstolos,
Vitória doa mártires,
Ciência dos confessores,
Pureza das virgens,
Unção de todos os santos,

Sede-nos propício, perdoai-nos, Senhor.
Sede-nos propício, atendei-nos, Senhor.

De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.
De todas as tentações e ciladas do demônio,
De toda a presunção e desesperação.
Do ataque à verdade conhecida,
Da inveja da graça fraterna,
De toda a obstinação e impenitência,
De toda a negligência e torpor do espírito,
De toda a impureza da mente e do corpo,
De todas as heresias e erros,
De todo o mau espírito,
Da morte má e eterna,
Pela vossa eterna procedência do Pai e do Filho,
Pela milagrosa conceição do Filho de Deus,
Pela vossa descida sobre Jesus Cristo batizado,
Pela vossa santa aparição na transfiguração do Senhor,
Pela vossa vinda sobre os discípulos do Senhor,
No dia do juízo,

Ainda que pecadores,nós vos rogamos, ouví-nos.
Para que nos perdoeis,
Para que vos digneis vivificar e santificar todos os membros da Igreja,
Para que vos digneis conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração,
Para que vos digneis inspirar-mos sinceros afetos de misericórdia e de caridade,
Para que vos digneis criar em nós um espírito novo e um coração puro,
Para que vos digneis conceder-nos verdadeira paz e tranqüilidade no coração,
Para que vos digneis fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça,
Para que vos digneis confirmar-nos em vossa graça,
Para que vos digneis receber-nos o número dos vossos eleitos,
Para que vos digneis ouvir-nos, Espírito de Deus,

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, mandai-nos o Espírito prometido do Pai.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, dai-nos o Espírito bom.

Espírito Santo, ouví-nos.
Espírito Consolador, atendei-nos.

V. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.

Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-mos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações.Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.

Em Latim


Kyrie, Eleison
Christie, Eleison
Kyrie, Eleison
Spiritus Sancte, audi nos
Spiritus Paraclite, exaudi nos
Pater de caelis, Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus,
Spiritus Sancte Deus,
Sancta Trinitas, unus Deus,
Spiritus veritatis,
Spiritus sapientiae,
Spiritus intellectus,
Spiritus foritudinis,
Spiritus pietatis,
Spiritus recti consilit,
Spiritus scientiae,
Spiritus sancti timoris,
Spriritus caritatis,
Spiritus gaudii,
Spiritus pacis,
Spiritus virtutum,
Spiritus multiformis gratiae,
Spiritus adoptionis Filiorum Dei,
Purificatur animarum nostrarum,
Ecclesiæ catholicæ sanctificator et rector,
Caelestium donorum distributor,
Discretor cogitationum et intetionum cordis,
Dulcedo in tuo servitio incipientium,
Corona perfectorum,
Gaudium angelorum,
Iluminatio patriarcarum,
Instpiratio prophetarum,
Os et sapientiae apostolorum,
Victoria Martyrium,
Scientia Condessorum,
Puritas virginum,
Unctio sanctorum omnium,

Propitius esto, parce nobis Domine,
Porpitius esto, exaudi nos Domine,

Ab omni peccato libera nos Domine,
Ad omnibus tentationinbus et insidiis diaboli,
Ab omnine presumptione e desesperatione,
Ab impugnationem veritatis agnitae,
Ab invidentia fraternae gratiae,
Ab omni obstinatione et impoenitentia,
Ab omni negligentia et tepore animi,
Ab omni immunditia mentis et corporis,
Ab haeresibus et erroribus universais,
Ab omni malo spiritu, A mala et aeterna morte,
Per aeternam ex Patre ex Filioque processionem tuam,
Per miraculosam conceptionem Filii Dei,
Per descensionem tuam super Christum baptizatum,
Per sanctam apparitionem tuam in tranfiguratione Domine,
Per adventum tuum super discípulos Christi,

In die iudicii. Peccatores, te rogamus, audi nos.
Ut nobis parcas,
Ut omnia Ecclesia membra vivificare et sanctificare digneris,
Ut verae pietatis, devotionis et orationis donum nobis dare digneris,
Ut sinceros misericordiae charitatisque affectus nobis inspirare digneris,
Ut spiritum novum et cor mundum in nobis creare digneris,
Ut veram pacem et cordis tranquilitatem nobis dare digneris,
Ut ad tollerandas propter iustitiam persecutiones nos dignos et fortes efficias,
Ut nos in gratia tua confirmare digneris,
Ut nos in numerum electorum tuorum recipias,
Ut nos exaudire digneris, Spiritus Dei,

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, effunde in nos Spiritum Sanctum.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, emitte promissum in nos Patris Spiritum.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, da nobis Spiritum bonum.

Spiritus Sanctum, audi nos.
Spiritus Paraclite, exaudi nos.

V. Emitte Spiritum tuum et creabuntur.
R. Et renovabis faciem terrae.

Oremus: Deus qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti, da nobis in eodem Spiritu recta sapere et de eius semper consolatione gaudere. Per Christum Dominum nostrum. Amen.

Ladainha de Nossa Senhora

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos. Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho Redentor do mundo que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo que sois Deus, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós
Santa Maria, rogai por nós.
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens,
Mãe de Jesus Cristo,
Mãe da divina graça,
Mãe puríssima,
Mãe castíssima,
Mãe Imaculada,
Mãe intemerata,
Mãe amável,
Mãe admirável,
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Virgem prudentíssima,
Virgem venerável,
Virgem louvável,
Virgem poderosa,
Virgem clemente,
Virgem fiel,
Espelho de justiça,
Sede da sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso espiritual,
Vaso digno de honra,
Vaso insigne de devoção,
Rosa mística,
Torre de David,
Torre de marfim,
Casa de ouro,
Arca da aliança,
Porta do Céu,
Estrela da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarcas,
Rainha dos Profetas,
Rainha dos Apóstolos,
Rainha dos Mártires,
Rainha dos Confessores,
Rainha das Virgens,
Rainha de todos os santos,
Rainha concebida sem pecado original,
Rainha assunta ao Céu,
Rainha do sacratíssimo Rosário,
Rainha da Paz,

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

V/ Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R/ Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos. Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos Vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da tristeza do século e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Em Latim


Kyrie, eléison. 
Christe, eléison. 
Kyrie, eléison. 
Christe, audi nos. 
Christe, exáudi nos. 
Pater de cælis, Deus,miserére nobis. 
Fili, Redémptor mundi, Deus, 
Spíritus Sancte, Deus, 
Santa Trínitas, unus Deus,
Sancta María, ora pro nobis. 
Sancta Dei Génitrix, 
Sancta Virgo vírginum, 
Mater Christi, Mater divínæ grátiæ, 
Mater puríssima, 
Mater castíssima, 
Mater invioláta, 
Mater intemeráta, 
Mater amábilis, 
Mater admirábilis, 
Mater boni consílii, 
Mater Creatóris, 
Mater Salvatóris, 
Virgo prudentíssima, 
Virgo veneránda, 
Virgo prædicánda, 
Virgo potens, 
Virgo clemens, 
Virgo fidélis, 
Spéculum justítiæ, 
Sedes sapiéntiæ, 
Causa nostræ lætítiæ, 
Vas spirituále, 
Vas honorábile, 
Vas insígne devotiónis, 
Rosa mystica, 
Turris Davídica, 
Turris ebúrnea, 
Domus áurea, 
Fderis arca, 
Jánua cæli, 
Stella matutína, 
Salus infirmórum, 
Refúgium peccatórum, 
Consolátrix afflictórum, 
Auxílium Christianórum, 
Regína Angelórum, 
Regína Patriarchárum, 
Regína Prophetárum, 
Regína Apostolórum, 
Regína Mártirum, 
Regína Confessórum, 
Regína Vírginum, 
Regína Sanctórum ómnium, 
Regína Sine labe origináli concépta, 
Regína in cælum assúmpta, 
Regína sacratíssimi Rosárii, 
Regína pacis, 

Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi, parce nobis, Dómine. 
Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi, exáudi nos, Dómine. 
Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi, miserére nobis. 

V. Ora pro nobis, sancta Dei Génitrix.
R. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi. 

Orémus. Concéde nos fámulos tuos, quæsumus, Dómine Deus, perpétua mentis et córporis sanitáte gaudére: et gloriósa beátæ Maríæ semper Vírginis intercessióne, a præsénti liberári tristítia, et ætérna pérfrui lætítia. Per Christum Dóminum nostrum. Amen.

Oração de Santo Agostinho

“Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação...
Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah! que, pelo menos, a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele procurais. Ó Jesus anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós inteiramente consumido em vosso amor... Amém”.

Em latim


Tu es Christus, pater meus sanctus, Deus meus pius, rex meus magnus, pastor meus bonus, magister meus unus, adjutor meus optimus, dilectus meus pulcherrimus, panis meus vivus, sacerdos meus in aeternum, duz meus ad patriam, lux mea vera, dulcedo mesma sancta, via mea recta, sapientia mea praeclara, simplicitas mea pura, concordia mea pacifica, custodia mea tota, portio mea bona,m salus mea sempiterna.

Christe Jesu, amabilis domine, cur amavi, quare concupivi omni vita mea quidquam praeter te Jesusm Deum Meum? Ubi era quando tecum mente non eram? Jam ex hoc nunc, omnia desiderai mea, incaliscite et effluite in Dominum Jesum; currite, satis hactenus tardastis; properate quo pergitis; quaerite que quaeritis. Jesu, qui non amat, anathema sit; qui non amat, amaritudinibus repleatur.. O dulci Jeus, te amet, in te delectetur, te admiretur omnis sensus bonus tuae conveniens laudi. Deus cordis mei et pars mea, Christe Jesu, deficiat cor meum spiritu suo, et vivas tu in me, et concalescat in spiritu meo vivus carbo amoris tui et excrescat in ignem perfectum; ardeat jugiter in ara cordis mei, ferveat in medullis meis, flagret in avbsconditis animae meae; in die consummationis meae consummatus inveniar apud te.